Quando olho para Mim não Me Percebo
Quando olho para mim não me percebo
Tenho tanta a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.
O ar que respiro, este licor que bebo,
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.
Nem nunca, propriamente reparei,
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? Serei
Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterônimo de Fernando Pessoa
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Fernando Pessoa |
I study myself but I can´t perceive
I´m so addicted to the feeling that
I loose myself if I´m distracted
From the sensations I receive.
This Liquor I drink, the air I breathe,
Belong to the very way I exist;
I´ve never discovered how to resist
These hapless sensations I conceive.
Nor have I ever ascertained
If I really feel.
Am I what I seem to myself – the same?
Is the I I feel the I that´s real?
Even with feelings I´m a bit of an atheist.
I don´t know if it´s I who feels.
Lisbon, August 1913 (Álvaro de Campos)
Link http://nescritas.com/tributefpessoa/fpessoawork/1981/01/